Calhas lacrimais: por que eu não as preencho?
- Kênia Colares
- 21 de abr. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de ago.

No estudo dos cirurgiões plásticos, Chin-Ho Wong , Michael KH Hsieh e Bryan Mendelson, eles encontraram o ligamento da calha lacrimal que antes não havia sido encontrado nas dissecações de cadáveres, o que ajudou a explicar o porquê o preenchimento de gel de ácido hialurônico (AH) não é capaz de levantar a olheira que é presa por esse ligamento
A conclusão do trabalho dos pesquisadores foi de que o preenchimento pode ser colocado abaixo do ligamento da calha lacrimal, mas não acima dele ou diretamente no sulco lacrimal. Devido a sua natureza fibrosa, o preenchimento sobre ou diretamente no ligamento, normalmente faz com que o preenchedor se espalhe, ou seja, haja um deslocamento do mesmo para ambos os lados, o que causa o inchaço na pálpebra inferior. A proposta do estudo, portanto, é de colocar o gel preenchedor abaixo da calha, ou seja, essencialmente na bochecha e este tem sido meu método preferido. Ou seja, eu não preencho diretamente a calha lacrimal ou sobre ela, preencho logo abaixo, isto é, na bochecha, de forma profunda a nível supraperiosteal o que ajuda a melhorar as olheiras com o suporte do ligamento lacrimal e evita efeito Tyndall, que é quando o gel de AH é injetado muito superficialmente, e pode causar uma descoloração azulada sob a pele. E o efeito Tyndall é bem desagradável, falo por experiência própria, pois já tive, quando recebi uma injeção de preenchedor há muitos anos. Permaneci cerca de 8 a nos com a montanha azulada sob os olhos. Não havia maquiagem que resolvesse. Ela até escondia o azulado, mas o inchaço, não. Na época o médico que fez o preenchimento, não estava na clínica, e o outro médico que lá trabalhava não quis aplicar a enzima reversora do gel, a hialuronidase. Ele não me falou, mas certamente, não o fez, por receio de alguma reação alérgica à enzima e/ou porque também temia que minha pálpebra inferior pudesse ficar muito flácida com a retirada o gel. Só depois, de anos, quando mudei de um estado para o outro, que uma profissional biomédica aplicou, fazendo o teste alérgico antes (embora ele não seja 100% de uma garantia de não alergia). E realmente após a aplicação, fiquei com uma flacidez muito grande. Se esse era o temor do médico, ótimo profissional aliás, ele estava certo. E pra tratar a flacidez tive que fazer um peeling de fenol light localizado (somente na pálpebra). O peeling de fato, melhorou de forma significante a flacidez, embora a pálpebra esquerda não tenha ficado tão boa. E depois, eu mesma, já profissional nesta área, apliquei um pouquinho de preenchedor na região, sem abranger a calha lacrimal.
Mas quando eu tive o efeito Tyndall, minha ideia foi usar na maioria das vezes, um óculos escuro nos ambientes ao ar livre e um óculos de lente transparente sem grau, em ambientes fechados, pois a armação pegava exatamente em cima do Tyndall e ajudava a disfarçar. Mas de qualquer forma tive que aparecer com meu inchaço várias vezes. Na época gravava um comerciais de TV por semana e apresentava um sorteio ao vivo. Como mencionei a maquiagem disfarçava, mas não escondia completamente.

Efeito Tyndall discreto

Efeito Tyndall acentuado

Efeito TYndall (EU) aparecendo mesmo maquiada
Então diante da minha própria experiência e dos estudos, pra este procedimento aplico apenas uma pequena quantidade de gel e de forma profunda. Para este procedimento costumo usar o Juvederme Ultra ou o Neuramis Volume. O Juvederm Ultra possui um processo de reticulação denominado Hylacross™ que fornece uma concentração de 24 mg/mL de HA. A composição reticulada de 6% produz um gel macio, viscoso e sem esferas que ajuda na injeção suave e tem como objetivo aumentar a durabilidade. Ele contém 0,3% de lidocaína sem conservantes que auxilia no alívio da dor durante e após a injeção. O Neuramis Volume, também se trata de um gel macio e viscoso com baixo swelling factor (baixo fator de inchaço) e que proporciona um bom suporte pra essa área. Ele também tem 0,3% de lidocaína. O paciente fica confortável durante o procedimento.

Nesse caso acima, que faz parte do estudo mencionado, o paciente recebeu 0,4 ml de cada lado do gel Juvederm Ultra.
A cânula é direcionada diagonalmente para cima em direção ao canto medial e penetra profundamente na pele através do músculo até o periósteo (camada que reveste o osso). A proteção do globo é assegurada pela palpação da borda infraorbital com a mão não injetora. O procedimento também pode ser feito com agulha, mas eu prefiro a cânula, por ter a ponta romba (não cortante). Seu uso reduz o risco de hematomas, oclusões vasculares e ainda, neste caso, evita a injeção no septo orbital.

Devido ao rico plexo vascular subdérmico, esta área está sujeita a hematomas. Logo após o preenchimento é colocado bolsa de gelo. O paciente também deve fazê-lo em casa, a fim de evitar ou diminuir os hematomas.
O preenchimento é uma opção não invasiva e pode haver um tempo de inatividade mínimo devido ao inchaço e hematomas. O volume injetado varia de paciente para paciente, mas nunca se deve fazer correção excessiva, isso significa, que não se deve tentar preencher totalmente a área, aplainar completamente a região. Dessa forma, não uso mais que 0,2 ml a 0,4 ml. Portanto, a expectativa do paciente deve ser trabalhada antes. Mas se houver necessidade de tratamento adicional, depois de duas a quatro semanas o paciente poderá ser avaliado e então aplicado complemento para obter uma melhor correção. Caso também haja irregularidade com o preenchimento, o mesmo poderá ser corrigido com a hialuronidase.
Para saber se o paciente irá se beneficiar dessa técnica, antes eu me certifico fazendo um teste simples que consiste em fazer uma leve pressão na bochecha e se o tecido da calha se levantar, tenho a confirmação de que isso será bom pra ele.
A duração do preenchimento varia de individuo para indivíduo, mas em média dura de 6 a 12 meses. Alguns pacientes já relataram duração superior a 12 meses.
CONTRA-INDICAÇÕES
Expectativas irrealistas
Infecção perto do local da injeção
Alergia ou hipersensibilidade conhecida ao gel de AH ou à lidocaína misturada na seringa do preenchedor
Pacientes com hérnia de gordura septal
Elastose grave (por exemplo, dermatocalase ou bolsas oculares grandes)
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Kênia Colares é graduada em Nutrição, Biomedicina com habilitação em Estética, Ciências Biológicas Pedagogia, Teatro e pós- graduação em Fitoterapia, Procedimentos Estéticos Injetáveis, Nutrição com Ênfase em Obesidade e Emagrecimento, Nutrição Clínica, Estética e Cosmetologia e Literatura Infantojuvenil. É também Técnica em Paisagismo pelo INAP e, nas horas vagas adora projetar jardins e escrever livros para a infância. Já publicou 33 obras literárias para a infância, algumas inclusive, com foco em educação alimentar.. E quando sobra tempo, ainda produz novos títulos.
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