Expectativas irreais em relação aos procedimentos estéticos
- Kênia Colares
- 12 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de ago.

Imagine alguém que viu um resultado de um preenchimento na internet e chega até o profissional injetor querendo aquele resultado. Isso é possível? A resposta é não. E por que isso? Porque isso é uma expectativa irreal. E por que é irreal? Deixe-me explicar.
O primeiro ponto que precisa ser compreendido é que cada pessoa é única, cada formato de rosto é único, cada parte da face é única. Para ilustrar, vou usar de exemplo o famoso "bigode chinês", nome popular do sulco nasolabial ou nasogeniano, cujo preenchimento é muito solicitado.
Cada bigode chinês se apresenta de um modo diferente, portanto, almejar o resultado do bigode chinês que viu numa pessoa na internet não é realista. Afinal, aquele bigode chinês daquela outra pessoa, é daquela pessoa. Um bigode chinês de uma pessoa pode ter uma profundidade menor ou maior do que o de outra pessoa, pode vir acompanhado de uma linha/ruga superficial e precisar ser tratado também superficialmente, pode ter um comprimento que vai da assa do nariz até a comissura labial (canto da boca) ou pode iniciar na assa do nariz e ir mais abaixo, para além do canto dos lábios, pode ser fruto de uma flacidez do terço médio, especificamente, as "maçãs do rosto", pode ter uma cicatriz hipertrófica em sua extensão, entre outras variáveis.
Alguns bigodes chineses, portanto, vão requerer não só o preenchimento profundo, para elevação do tecido afundado na região, mas também o tratamento de rugas que estão na superfície da pele. Para tratar estas últimas, requer a aplicação de um gel fino, macio, pouco reticulado e a aplicação é feita com agulha bem fina. Já para o afundamento, será necessário utilizar uma cânula e um gel mais denso que será depositado no subcutâneo. Se a pessoa for mais madura e tiver flacidez no terço médio, nas maçãs do rosto/bochechas, por exemplo, não vai adiantar tratar o bigode chinês em si mesmo, já que o afundamento dele tem como causa uma queda do tecido logo acima. Nesse caso o ideal seria tratar "as maçãs do rosto" primeiramente, aplicando um gel denso que dê volume e sustentação, elevando de forma sutil os tecidos e consequentemente suavizando o bigode chinês.
Veja alguns exemplos de sulcos nasolabiais/nasogenianos (bigode chinês).



Abaixo a A Escala Merz para o bigode chinês que se trata de uma ferramenta validada e globalmente aceita para avaliação adequada do grau de envelhecimento.

Enfim, com tudo isso, fica fácil compreender que José não pode ter o resultado de Manoel, nem Manoel pode ter o resultado de José, simplesmente porque José não é Manoel e vice-versa. Cada caso é um caso. Tudo deve ser tratado de forma individualizada, considerando as características de cada pessoa em particular. Sendo assim, em muitos casos, a mesma quantidade de gel aplicada em uma pessoa na mesma região, não dará o mesmo efeito em outra pessoa. Uns demandarão mais produto para atingir o efeito desejado, outros menos. Aquela ideia de que fulano colocou 1 ml e ficou ótimo, então em mim vai ficar ótimo também, não se aplica. Da mesma forma é necessário compreender que não basta chegar e dizer: "Eu quero colocar 3 ml no bigode chinês, porque a vizinha colocou 1 ml e não ficou bom", porque há limites de quantidades seguras para as diversas áreas do rosto. O ácido de ácido hialurônico é hidrofílico, isso significa que ele atrai água o que faz com que ele aumente seu volume, o que causará um maior edema (inchaço). Esse volume maior pode comprimir as artérias e gerar uma oclusão vascular parcial ou total por compressão externa, bloqueando o fluxo sanguíneo no local, o que pode levar a uma necrose do tecido. Embora isso seja bastante raro, porque uma necrose pode ser evitada facilmente se o agente reversor do ácido hialurônico for aplicado em tempo hábil.
De qualquer forma, é necessário, uma avaliação clara e honesta para cada situação, onde também as expectativas dos pacientes quanto a querer resultados iguais aos de outras pessoas, devem ser trabalhadas, porque como foi explicado, isso não condiz com a realidade.
Muitas vezes ocorre também, do paciente mesmo não se comparando com fulano ou beltrano, querer colocar 1ml de gel preenchedor em determinada área, porque isto corresponde ao valor que ele pode investir. E ele vem com essa ideia fixa de que 1 ml trará o resultado que ele espera e muitas vezes pode ficar frustrado, porque essa quantidade nem sempre será suficiente para gerar o resultado almejado. Para algumas áreas em algumas pessoas, essa quantidade não fará uma grande diferença. No bigode chinês, que é a área que usei como exemplo neste post, 1 ml pode ser o suficiente para algumas pessoas, tanto aplicando diretamente no bigode chinês, como de forma indireta, quando se aplica nas maças do rosto para e o bigode chinês melhora, como é o caso dessa senhora abaixo.

A quantidade de 1 ml de ácido hialurônico (0,5 ml para cada lado) foi aplicado nas maçãs do rosto e por tabela, beneficiou o bigode chinês, trazendo um resultado sútil que atendeu a expectativa dessa paciente. Como ela tinha um rosto magro rosto e pele fina, preencher essa região não lhe traria um aspecto pesado, mas em outras pessoas, 1 ml poderia trazer um resultado quase imperceptível, que não atenderia as expectativa dos pacientes. É valido assim dizer, dizer que preencher as maçãs do rosto, também nem sempre é o indicado pra todas as faces.
Então, uma conversa franca sobre as possibilidades e limitações, com cada paciente é imprescindível. E sempre lembrando que cada pessoa é única e os protocolos de tratamento, bem como os resultados, podem variar.
Nesse sentido, é importante também destacar a compreensão dos anseios do paciente não só de modo a atender às necessidades únicas de cada um deles, como também evitar o tratamento de pacientes cujas necessidades ou expectativas estejam fora do âmbito da competência do profissional injetor. Como exemplo, um paciente que almeja ou precisa de um tratamento que só uma cirurgia poderá oferecer a ele.
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Kênia Colares é graduada em Nutrição, Biomedicina com habilitação em Estética, Ciências Biológicas Pedagogia, Teatro e pós- graduação em Fitoterapia, Procedimentos Estéticos Injetáveis, Nutrição com Ênfase em Obesidade e Emagrecimento, Nutrição Clínica, Estética e Cosmetologia e Literatura Infantojuvenil. É também Técnica em Paisagismo pelo INAP e, nas horas vagas adora projetar jardins e escrever livros para a infância. Já publicou 33 obras literárias para a infância, algumas inclusive, com foco em educação alimentar.. E quando sobra tempo, ainda produz novos títulos.



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