Qual a diferença entre um hematoma e uma oclusão vascular?

Com a crescente procura por procedimentos estéticos injetáveis, o número de intercorrências também cresce. Fazer preenchimentos à base de ácido hialurônico inclui riscos, embora a maioria dos efeitos colaterais comuns, sejam reversíveis e sem grande preocupação, mas existe o risco de maiores complicações. Dito isto, deixo claro que o objetivo, desse post, não é espalhar o alarmismo, mas sim, educar.

A complicação mais preocupante seria a oclusão vascular. Nesse sentido é importante a diferenciação entre um hematoma e uma oclusão vascular.

Hematoma versus Oclusão Vascular

Um hematoma é uma lesão traumática, geralmente na pele intacta, onde os vasos sanguíneos subjacentes são rompidos e o sangue vaza para o tecido circundante. Nos dias ou semanas seguintes, esse sangue é decomposto pelo corpo e, eventualmente, eliminado, devolvendo a cor e o status normais da pele. Em tratamentos injetáveis, onde uma agulha é usada para penetrar a barreira da pele, os hematomas são quase um dado adquirido e estão entre os efeitos colaterais esperados mais comuns, de tamanho variável com base no grau de lesão na pele e na área injetada. Embora pouco comum, é possível ter hematomas com o uso de cânulas também. Isso ocorre quando há força empregada para movimentá-las debaixo dos tecidos, mas se movimentamos com delicadeza, certamente a causa do hematoma é o uso da agulha.

 Hematoma

Hematoma

Hematoma

3ºdia, 9º dia e 24º dia do hematoma na região do sulco nasojugal (olheiras)

Por outro lado, uma oclusão vascular (OV), ocorre quando o sangue não consegue mais fluir dentro de um vaso sanguíneo, ou seja, houve um bloqueio. Este bloqueio pode ser parcial ou completo, resultando na privação de oxigênio e outros nutrientes do tecido, resultando, se não for tratado, eventualmente em necrose. No caso de injeções de preenchimento dérmico, essa oclusão pode se dar tanto pela injeção não intencional e muitas vezes não reconhecida de algum preenchimento dentro de um vaso, como pela compressão do vaso, por excesso de preenchedor ou a aplicação de um gel muito denso numa região que não deveria ser usado (na região de pálpebras, por ex, somente um gel fino deve ser usado). Embora o bloqueio do vaso possa ocorrer imediatamente após a injeção, pode também ocorrer uma hora ou algumas horas depois, razão pela qual a educação, os cuidados posteriores e o acompanhamento do paciente nas primeiras 24 horas ou mais são muito importantes. 

Dada a gravidade de uma OV que é uma emergência como saber a diferença entre ela e um hematoma, após o tratamento injetável? 

Embora não haja dois rostos iguais e duas pessoas não tenham as mesmas preocupações ou resultados, existem alguns sinais de alerta importantes a serem observados e que devem ser observados pelo paciente e pelo injetor responsável pelo tratamento.

Duas das características de uma OV que nos permitem diagnosticá-los são: 

• Dor - muitas vezes de início súbito, intensa e desproporcional, especialmente em comparação com o lado/área onde não ocorreu a oclusão, é um sinal de alerta.  

• Descoloração da pele - embora inicialmente possa se assemelhar a um hematoma, na oclusão vascular, a pele privada de oxigênio começa a empalidecer rapidamente (manchas brancas ou áreas brancas dentro do hematoma/área).

Oclusão vascular até a completa recuperação da circulação e pele

Oclusão vascular (destaque para o branqueamento)

Oclusão vascular

Qualquer um destes sintomas deve levar a pessoa afetada, especialmente poucas horas após o tratamento, a procurar o profissional injetor para obter ajuda e aconselhamento, com fotos da área afetada, caso o injetor não a esteja acompanhando.

Esses sintomas irão progredir tornando-se com a carência de oxigênio nos tecidos, assim o tecido poderá assumir um preto azulado; podem se formar pústulas estéreis à medida que a pele começa a morrer (necrosar), mas o ideal é que ninguém chegue a esse estágio, tendo os cuidados posteriores e acompanhamento adequados por seu profissional injetor.

É possível garantir que não haverá uma oclusão vascular?

A resposta honesta para quem opta por injetáveis, principalmente preenchimento dérmico, é não. Embora a escolha de um profissional com bom conhecimento anatômico e das técnicas e produtos injetáveis, seja algo importante a se avaliar, como cada pessoa tem anatomia e procedimentos são trabalhos complexos e delicados; apesar de todo conhecimento e experiência adequados, as intercorrências como um OV, podem ocorrer, razão pela qual todos os procedimentos devem ser realizados, idealmente, com o consentimento informado adequado e com plena consciência das limitações e dos riscos. 

Mas verdade também seja dita, a oclusão vascular é algo muito raro de acontecer, diferente do hematoma, que basta uma agulha traspassar um vasinho que seja, já irá acontecer. Com fios de PDO ou PCL que vem em agulhas, eles ocorrem com frequência. E não é preciso apavorar, porque a a probabilidade de oclusão vascular, é pequena, desde que é claro, não se esteja recebendo a injeção de alguém que seja um aventureiro na área dos injetáveis.

Uma outra ótima notícia é que a oclusão vascular causada por injeção de ácido hialurônico é REVERSÍVEL! Logo, se o profissional injetor acompanhar o paciente principalmente nas primeiras horas, poderá aplicar rapidamente o agente reversor da AH, que é a hialuronidase. Dessa maneira, o acompanhamento, pós-procedimento, com envio de fotos e comunicação dos sintomas, como dor forte e crescente, nos primeiros dias ou horas, é crucial para identificar uma possível oclusão e tratá-la de forma rápida evitando uma necrose tecidual.

Após a dissolução do AH, a circulação retorna na pele afetada começara a fluir e depois o paciente poderá ir para casa. Mas o acompanhamento por uma ou duas semanas depois, para avaliar a pele e garantir que ela está voltando ao normal. Portanto, se as oclusões vasculares forem detectadas precocemente, serão resolvidas bem, sem nenhum efeito a longo prazo na integridade ou qualidade da pele do paciente. 

Finalizando, todo injetor deve orientar seus pacientes, sem assustá-los desnecessariamente, para que eles saibam que hematomas existem e são muito frequentes, e que com o tempo desaparecem, sem maiores problemas,, mas também podem esconder uma oclusão vascular que precisa ser tratada com rapidez, por isso precisam ser acompanhados diariamente, sobretudo nos primeiros dias. Por isso estabelecer uma relação terapêutica baseada na confiança que não pode ser apressada e que fortalece o paciente, é essencial.

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Kênia Colares é graduada em Nutrição, Biomedicina com habilitação em Estética, Ciências Biológicas Pedagogia, Teatro e pós- graduação em Fitoterapia, Procedimentos Estéticos Injetáveis, Nutrição com Ênfase em Obesidade e Emagrecimento, Nutrição Clínica, Estética e Cosmetologia e Literatura Infantojuvenil. É também Técnica em Paisagismo pelo INAP e, nas horas vagas adora projetar jardins e escrever livros para a infância. Já publicou 33 obras literárias para a infância, algumas inclusive, com foco em educação alimentar.. E quando sobra tempo, ainda produz novos títulos.

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